O Brasil foi despertado, de novo, para o problema do menor na recente crise, mais permanente que recente, da FEBEM. Diante das telas e através dos jornais foram expostas as vergonhas de uma sociedade que sequer ruboriza pelos seus escândalos. Sabemos que tal problema não traz nenhuma novidade, são fatos comuns em nosso cotidiano. Tais fatos apenas nos relembram que nos falta saúde, segurança, empregos, mas principalmente falta-nos educação. Não há investimento, não há política educacional, não há aprimoramento; não há interesse político, etc. Mas além dessas ausências, existe uma que revela o real estado de nosso processo de ensino. Esta não depende de governo, não é uma responsabilidade política, e nem precisa de um programa de investimento. Tal ausência ou carência afeta os meninos da FEBEM, tanto quanto os garotos da classe média e alta; faz-se sentir entre as crianças, bem como entre os universitários; não respeita classe social, idade, sexo ou religião. Ou seja, falta educação à educação.
A palavra educação, por um erro de percurso, tornou-se sinônima de conhecimento. A agenda do processo educativo está bem próxima da produção de intelectuais. Ensinar, hoje, é transferir conhecimento. O incidente ocorrido no shopping de São Paulo, quando o estudante do 6o ano de medicina assassinou e feriu várias pessoas com uma arma, comprova que intelectualidade não significa educação. Não basta ensinar as leis, é preciso aprender a justiça, tornar conhecido os códigos legais não substitui o aprendizado do respeito. Nessas ocasiões me bate aquela saudade da professora, que nos ensinava uma disciplina chamada moral e cívica. Não foi a disciplina ou matéria que mudou de nome, mas os conceitos e valores, principalmente o da educação.
Isto, talvez, explique porque a nossa sociedade ao mesmo tempo que adquire mais conhecimento, perde sua educação. Ou revemos nosso conceito de educação, ou continuaremos a produzir intelectuais com desvios comportamentais, tecnólogos sem ética, pós-graduados sem caráter. Ensinar e Educar são atividades ligadas à vida, não somente ao conhecimento. Assim, importa que Governos e escolas, pais e professores invistam seu tempo, dinheiro e esforço para formação do caráter, dediquem-se a pessoas, transmitam vida. Isto não significa abandonar a busca do conhecimento, mas fazer do conhecimento um instrumento da vida e não o seu alvo. Em suma, sejam os meninos da FEBEM ou dos colégios de classe alta, sejam as crianças do maternal ou os jovens das universidades, todos precisam de educação. Talvez devêssemos nos lembrar das palavras do Mestre, que ao referir-se a sua missão, ministério e tarefa, inclusive ensino, disse:
Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância(Jo. 10:10)